A morte do soldado Dhiogo Melo Rodrigues, de apenas 19 anos, dentro do CMO (Comando Militar do Oeste), em Campo Grande, abriu uma ferida que vai além do luto. A família denuncia negligência, falta de acompanhamento psicológico e omissão das autoridades militares diante dos sinais claros de sofrimento do jovem, que, segundo os parentes, "não tinha condições de permanecer no quartel".
Dhiogo havia ingressado há apenas três meses no Exército Brasileiro e, desde o início, demonstrava não querer continuar servindo. "Em sua formatura, ele já se queixava muito. Minha mãe chegou a solicitar ao comandante a sua dispensa, mas nada foi feito, nem ao menos o remanejamento para outra área", relatou o irmão, que preferiu não se identificar.
Segundo a família, o jovem não passou por nenhum teste psicológico específico para o manuseio de armas de fogo de alto calibre. "Ele relatava que sofria muito lá: ofensas de caráter vexatório. Se reclamasse, seria ainda mais cobrado. Era chamado de burro e quem o ajudava era os próprios colegas de pelotão. Todos viam que ele não tinha condições", afirma o parente.
Na manhã de ontem, Dhiogo foi deixado pelo pai no quartel, feliz, segundo a família, porque aquele seria seu último plantão na guarita, função que ele detestava. "Creio que logo após o almoço alguém tenha frustrado a mudança dele para o rancho, e ele não suportou mais", disse o irmão.
O soldado foi encontrado morto, com um disparo de fuzil na cabeça, enquanto fazia guarda no posto do CMO, na Avenida Duque de Caxias. Segundo o irmão da vítima, o corpo foi removido sem perícia no local, o que contraria protocolos básicos de apuração. Inicialmente, segundo a família, houve tentativa de encaminhar o corpo ao SVO (Serviço de Verificação de Óbito), o que inviabilizaria uma investigação completa. Apenas após insistência dos parentes, o corpo foi levado ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) para necropsia.
O Exército Brasileiro informou, ontem, em nota que o soldado recebeu atendimento de emergência e foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de Campo Grande, mas não resistiu, e que está prestando suporte psicológico e espiritual à família. Um inquérito policial militar foi instaurado para investigar as circunstâncias da morte.
"Não se trata apenas da morte de um soldado, mas da perda de um filho, de um irmão, de um jovem que tinha toda uma vida pela frente", diz o irmão do soldado, porta-voz da família. "Ele foi vítima de um sistema que deveria protegê-lo, não o destruir".
Campo Grande News
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